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sábado, 28 de setembro de 2013

Um ateu garante: “ateísmo é moda”

O funcionário público Rafael Schroder, 23 anos, por muito tempo frequentou a igreja apenas por causa dos pais, que queriam vê-lo participar da catequese, da eucaristia e da crisma. Apesar disso, ele sempre teve muitas dúvidas sobre a religião, até chegar o momento em que deixou de acreditar até mesmo na existência de Deus.
Nesta entrevista, concedida ao programa “Na Mira da Verdade”, Schroder conta sobre sua trajetória no ateísmo até chegar ao conhecimento de Jesus, e se tornar um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade Rio Claro, interior de São Paulo.

Na Mira da Verdade: Quando você se tornou ateu?

Schroder: Considerei-me um ateu a partir dos 16 anos de idade, quando me aprofundei na filosofia ateísta e passei a ver Deus como um fruto da fraqueza humana.

Na Mira da Verdade: Quais foram as questões que mais o inquietaram e o levaram ao ateísmo?

Schroder: Eu acreditava demais na ciência. Para mim, a ciência explicava tudo. Eu era e sou até hoje um apaixonado por assuntos astronômicos, gosto das ciências naturais, sempre filosofei muito sobre essas áreas. Enfim, gostava de pesquisar e entender tudo ao nosso redor e não trabalhava com a hipótese de haver um ser superior autor de tudo isso.

Eu tinha pavor de evangélico, pois acreditava serem todos “farinhas do mesmo saco”. Escândalos entre denominações religiosas, supostas aparições de Maria em vidros de janelas, pessoas que viam ou falavam com pessoas já falecidas, aparições de anjos, numerologia… Tudo isso era uma coisa só na minha cabeça e concluí que o ser humano estava chegando cava vez mais no fundo poço. Esses foram alguns fatores que contribuíram para reforçar a base que eu tinha para assumir uma postura ateísta convicta.

Na Mira da Verdade: Por que uma pessoa deixa de acreditar em Deus?

Schroder: Em minha opinião, o que leva uma pessoa a deixar de crer em Deus, além dos fatos que já mencionei, é a falta de conhecimento. Pior do que isso: não querer conhecer. Quem não crê ou não conhece a Deus adora colocá-lo “contra a parede”, e acusá-lo por todos os problemas de sua vida, da sociedade e do mundo, do passado e do presente. Responsabilizam Deus por tudo. O problema de muitos ateus (não a maioria) é ler um ou dois artigos na internet e já tirarem suas conclusões. O famoso “disse que me disse” chega a fazer do ateísmo uma moda. Outra postura que leva à descrença é se preocupar em conhecer apenas um ponto de vista, e não ter humildade para buscar e conhecer os demais. O ateu fica tão endurecido e convicto da sua versão da ideia que, quando vai analisar outro ponto de vista, já vai “armado” para discordar ou rejeitá-lo.
Portanto, o endurecimento, normalmente, é a causa da descrença.

Na Mira da Verdade: Que argumentos são os mais usados pelos ateus para defender a própria visão de mundo?

Schroder: Falar sobre argumentos mais defendidos é difícil. Existem tantos tipos de ateus quanto existem diferentes denominações religiosas. Cada um defende seu ponto de vista de uma maneira diferente, e é difícil encontrar grandes grupos que tenham os mesmos argumentos.
É interessante perceber uma coisa: Quando você encontra pessoas com o mesmo argumento para defender a própria a visão de mundo, normalmente essas ideias já são influenciadas por outra, ou seja: muitos ateus são influenciados por obras de terceiros e não possuem uma conclusão particular. Sempre se baseiam em conclusões já existentes. É por isso que falo que ateísmo, para muitas pessoas, é mais uma moda do que uma decisão profunda do indivíduo.

Na Mira da Verdade: Como passou a acreditar em Deus?

Schroder: Tive experiências que só quem já foi ateu (e hoje acredita) é capaz de entender a intensidade do “choque” que levamos. Mas, o primeiro passo para acreditar em Deus foi tomar a atitude de sair do circulo vicioso dos argumentos para a inexistência dEle, e conhecer outro ponto de vista totalmente oposto, na tentativa de encontrar o porquê de eu não crer na divindade. Penso que isso foi fundamental.
Acredito que a maior parte dos ateus adota exatamente essa postura de “não estar disponível” para reciclar os próprios conceitos. Eles se intitulam ateus, mas nem se quer foram conhecer a Bíblia antes de formarem solidamente a própria opinião. Tecnicamente, isso seria o pré-conceito, ou seja, tiram conclusões de algo
sem o conhecer verdadeiramente.

Na Mira da Verdade: Que argumentos racionais o convenceram que Deus é real?

Schroder: Particularmente, não precisei chegar aos argumentos para me convencer da existência do Criador. As experiências pelas quais passei foram marcantes. Na época que eu era um descrente, se uma pessoa me contasse as mesmas experiências que vivi, eu a chamaria de louca e fanática. Entretanto, para mim, os argumentos da existência de Deus estavam bem “debaixo do meu nariz”, mas, infelizmente, eu sempre havia recusado enxergá-los.

Olhe para o céu e imagine quão grande é o universo e que, mesmo assim, você não chegará “nem perto de ter a noção” do tamanho disso. Há incontáveis galáxias, estrelas, planetas. Em um lugarzinho do espaço, um pequenino planeta como o nosso abriga muitas formas de vida, umas diferentes das outras e, no meio de todo esse infinito, será que nós seríamos os únicos “abençoados” com a capacidade de amar? Para mim, Deus é a razão de toda a existência e tudo o que existe é a prova da existência dEle. Acredito que se não há Deus, então só nos resta o desespero.

Na Mira da Verdade: Conte-nos sobre algumas dessas experiências que o levaram a abandonar o ateísmo.

Schroder: Aconteceram coisas muito fortes comigo, e costumo testemunhar a respeito sempre quando tenho a oportunidade de falar para os amigos que já estão em Cristo. Porém, quando se trata de contar para um ateu, me preocupo como irei falar ou até se testemunharei ou não, pois normalmente o ateu não recebe bem esse tipo de experiência. Antes, quando ouvia sobre histórias sobrenaturais, eu duvidava da pessoa ou simplesmente não atribuía intervenção divina ao fato.
Por causa dessa dificuldade dos ateus em aceitar experiências que não sejam observáveis de maneira natural, não darei todos os detalhes, mas, o farei noutra oportunidade, se as pessoas quiserem saber mais sobre minha história.

Algumas vezes ouvia pessoas que estavam desempregadas e precisavam de um emprego. Elas afirmavam ter orado antes da conquista do emprego. Para mim, aquela pessoa só tinha conseguido emprego porque procurou e porque “quem procura acha.” Outro testemunho que ouvia muito era o de pessoas que estavam enfermas, mas depois de perseverarem em oração, ficaram curadas. Histórias como essas é que não conseguia aceitar, pois acreditava ser aquilo apenas obras de circunstâncias favoráveis à situação. Certamente, a grande maioria dos ateus pensa dessa forma também.
As primeiras boas experiências aconteceram quando comecei a estudar a Bíblia através de vários artigos, com os quais comecei a mudar meus pontos de vista, como por exemplo, a crença que eu tinha de que “se Deus existe, então ele [o Deus da Bíblia] é um psicopata”.


"Inicialmente passei por dificuldades, mas elas acabaram me mostrando a fidelidade de Cristo para comigo. Os obstáculos apenas me fizeram conhecer ainda mais a Deus" (Foto de Rafael Schroder - usada com permissão).
Através de vários materiais esclarecedores que encontrei na internet, acabei descobrindo a razão de milhares de mortes nos tempos bíblicos e que na verdade, psicopatas eram aqueles que foram mortos. Ao conhecer algumas práticas desses povos que foram exterminados, fiquei chocado, por exemplo, com a prática comum de sacrifícios humanos ao deus Baal.

Os sacrifícios ocorriam quando chegavam épocas de estiagem, aquele povo atribuía à ira daquele deus mitológico. Na tentativa de agradá-lo, era comum que as pessoas queimassem vivos os filhos primogênitos. Não eram diferentes os rituais aos deuses Moloque e Mamom. Moloque, por exemplo, era adorado com a chocante prática da prova de fogo (Dt 18:10).

Em tais rituais da “prova de fogo”, recém-nascidos eram passados em brasas e, caso eles não se queimassem, isso era “indício” de que eles tinham sido “aceitos” por Moloque. Se o mais provável acontecesse, tais crianças eram atiradas vivas de penhascos ou mortas ali mesmo, durante o ritual.
Para mim, conhecer a razão da fúria de Deus foi um verdadeiro “tapa na cara”. Sentimentos como esse é que começaram a derrubar as ideias superficiais e sem sentido do ateísmo em mim. Não tive provas da existência de Deus até aquele momento, mas comprovei Sua lealdade e tolerância para conosco.
Tempos depois, enquanto prosseguia nos estudos e conhecia a fundo o que eu não conhecia, fui notando a Bíblia não falava só de Deus, mas também possui um vasto e profundo estudo da natureza humana. Foi por isso que noutro dia, ao comentar o artigo do Prof. Leandro Quadros, intitulado “Nenhum ateu pode ser bom sem Deus”, eu havia afirmado ter me identificado com o conteúdo, pois, em meus estudos, já havia descoberto que o ser humano possui uma Lei Moral intrínseca.
Foram os estudos sobre a nossa natureza, incluindo as orientações dietéticas da Bíblia, que me prenderam, pois tendo gostado muito de tais princípios, comecei a praticá-los, guardá-los e a sentir os bons resultados em minha saúde física e mental.

Porém, a vida não é um mar de rosas. Havia noites que não conseguia dormir direito de tão atribulado que ficava com o dia que passara, e em uma dessas noites, finalmente cedi e fiz a minha primeira oração sincera. Assim como a Bíblia me ensinou, confessei meus erros a Cristo e pedi renovação para meu coração.
Naquela noite fria no mês de junho de 2011, clamei por socorro. Lembro-me que após a oração, senti uma tranquilidade e alívio tão grande como se tivesse desabafado para alguém real, em seguida, me cobri e rapidamente peguei no sono.

Na Mira da Verdade: Você acredita que a fé é algo cego ou existe racionalidade nela?

Schroder: Sobre a fé, eu gostaria que todo ateu pudesse compreender que a fé é um tiro certeiro no escuro. A questão não é “se nós vamos acertar”, mas, se vamos atirar. Se atirarmos, acertamos. Se não atirarmos, esse já é o erro em si.

Na Mira da Verdade: Ao fazer retrospectiva, você consegue afirmar que sua vida ao lado o Deus Invisível, é melhor que antes?

Schroder: Sem dúvidas. Inicialmente passei por dificuldades, mas elas acabaram me mostrando a fidelidade de Cristo para comigo. Os obstáculos apenas me fizeram conhecer ainda mais a Deus. Por isso, não me arrependo de nada e posso garantir a qualquer um que com humildade e coração aberto, poderá viver dias intensos  se apenas deixar que a palavra e o ensino de Deus entrem em seu coração.

Se eu disser que todas as dificuldades acabaram, estaria sendo hipócrita. Até hoje, continuo passando por momentos em que Deus aparentemente se ausenta, mas cada vez que ele “volta”, traz novas e boas experiências… É a caminhada árdua de alguém que procura ser um bom cristão. É gratificante. Para mim, é estranho afirmar se valeu ou não apena, mas digo que o sentimento é como se tivesse voltado para meu confortável e consolador abrigo, que é Cristo. Deus sabe a montanha que tirei das costas por simplesmente ter aceitado essa nova realidade.

Na Mira da Verdade: Que recado você tem para os ateus que estão lendo essa entrevista?
Schroder: Durante minha conversão, estudei a Bíblia por conta própria, com o coração aberto a novas verdades. Quando não cremos, a nossa mente insiste em rebater cada palavra lida, porém, gostaria que cada ateu fosse à Bíblia sem preconceitos e pudesse compreender que a vida é muito mais do que nascer e morrer.

As experiências que vivi me convenceram que existe um Deus. E por que eu tive essas experiências? Tive-as porque fui um ateu que resolveu dar um salto de fé. Deixei entrar no coração tudo o que sempre mantive do lado de fora. Por uma vez, procurei conhecer tudo o que eu não conhecia: Deus. E muito aquilo que conhecia, quando ateu, hoje não reconheço mais como verdade.
Amigo ateu: aconselho que também dê esse salto de fé. Pegue a Bíblia e artigos que a expliquem cientificamente, (que fazem uso das regras de interpretação do texto), e tente compreender a razão de existir dessas escrituras. Procure entender a mensagem central que ela passa para nós e a “moral da história” que ela transmite.

Se tiver dificuldades, saiba que também passei por muitas, assim como vários outros ex-ateus que superaram seus obstáculos. Porém, saiba que não estamos desamparados. Deus oferece inúmeros métodos para conhecê-Lo. Se você está acessando esse blog, saiba que isso já pode ser um passo para ter algum conhecimento sobre a divindade. Meios não faltam para isso. Só o que falta agora é você ter a simplicidade e humildade de vir conhecer da maneira profunda algo que ainda não conhece.

fonte:http://novotempo.com/namiradaverdade/um-ateu-garante-%E2%80%9Cateismo-e-moda%E2%80%9D/

domingo, 22 de setembro de 2013

Os cristãos primitivos chamavam Jesus de "um deus"? - Vitorino, Efraim e Clemente

A posição proeminente da Palavra como Primogênito entre as criaturas de Deus, como aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas e como Porta-voz de Deus, oferece uma base real para ele ser classificado como “um deus” ou poderoso – Estudo Perspicaz, Vol.2, pp. 536
É bem verdade que para alguns Jesus deve ser chamado de “um deus”, e que tal ensino reflete o ensino dos cristãos primitivos. Os Testemunhas de Jeová, que se consideram a única religião verdadeira, aquela que protege o ensino dos apóstolos por meio de um grupo de anciãos separados nos fins dos tempos para salvaguardar as escrituras, acreditam que Jesus deva ser chamado de “um deus”.
Essa visão é bem conhecida em sua tradução de João. 1.1: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era [um] deus”. Como portadores do ensino verdadeiro das escrituras, os Testemunhas de Jeová consideram que ao traduzir desse modo esse texto estão refletindo o ensino dos cristãos primitivos. Mas, será isso verdade?
Será que existem evidências entre os textos dos cristãos primitivos, especialmente aqueles que viveram antes do Concílio de Nicéia, de que Jesus era considerado como um deus? Será que os cristãos primitivos chamavam a Jesus de um deus? Nesse post, veremos três deles: Vitorino, Efraim e Clemente de Antioquia.

A. Vitorino

Vitorino nasceu provavelmente na Grécia (há quem defenda Pettau) em 270 e foi martirizado no período de Diocleciano em 303. Ele foi bispo da cidade de Pettau e por isso é eventualmente reconhecido como Vitorino de Pettau. Em função do seu caráter militar, Vitorino falava grego melhor que latim, mas foi o primeiro Pai da Igreja a realizar exegese no latim. Jerônimo nos diz que Vitorino teria escrito vários comentários bíblico além de livros contra as heresias do seu tempo. Entretanto, todos os seus materiais foram perdidos na história da Igreja e sobreviveram apenas partes das obras sobre Gênesis e Apocalipse.
Interessantemente, Vitorino faz uma citação de Jo.1.1 em cada documento. No documento reconhecido como “Sobre a Criação do Mundo” Vitorino diz:

Mas, o autor de toda a criação é Jesus. Seu nome é o Verbo (…) João, o evangelista diz: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus’

No oitavo capítulo do quarto livro da obra “Comentário sobre Apocalipse” Vitorino faz uma comparação entre os inícios dos evangelhos e apresenta uma figura que poderia representar cada um deles. Quando fala sobre o quarto evangelho ele diz: “Mas, João, que ele inicia, diz: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus’”.
Em Vitorino não vemos nenhum comentário elucidativo sobre as implicações desse texto, exceto que chama o Verbo de “nosso Senhor Jesus Cristo” como indicativo de sua divindade. O que se ressalta com Vitorino é que, do que restou do seu material, temos a impressão de que sua leitura e interpretação segue a tradição ortodoxa latina.
Mas, é interessante que em nenhum lugar na obra de Vitorino se pode encontrar alguma citação de que Jesus deva ser chamado de um deus. Na verdade, essa visão só foi realmente encontrada entre os hereges arianos, severamente condenados pelas escrituras.


B. Efraim da Síria

Efraim da Síria é, provavelmente, o único representante da História da Igreja reconhecido como teólogo-poeta. Ele nasceu por volta do ano 306 d.C. na cidade de Nisíbis filho de um líder pagão do deus Abnil ou Abizal. Foi introduzido ao cristianismo pelo Bispo de sua cidade, Tiago (Jacó). Efraim foi batizado por ele com 18 anos e provavelmente tornou-se um filho da aliança, uma forma não usual do proto-monasticismo Sírio. Também foi designado professor e diácono por Tiago. Tornou-se hábil na composição de hinos e na produção de comentários bíblicos. Escreveu muitos hinos de caráter didático, ricos em poesia e fundamentado nas escrituras, além de uma série de Hinos Contra Heresias, que apresenta poeticamente a encarnação do Verbo como Deus-homem. Suas obras foram escritas exclusivamente em Sírio, entretanto as cópias mais antigas desses materiais são encontrados em Grego, Copta, Georgiano e Armênio, sendo que muitas de suas obras são apenas encontrados no último.

Em uma obra intitulada “Sermão da Transfiguração do nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo”, Efraim defende uma visão ortodoxa da cristologia. Nessa obra ele apresenta claramente o conceito da Trindade: “Pai, o Filho e o Espírito Santo são um em natureza, poder, essência e relacionamento” (v.14); da união hipostática: “Eu confesso o mesmo [que Cristo] é perfeito Deus e perfeito homem, reconhecendo nele duas naturezas unidas hipostaticamente, mas em pessoa, [ele] é indivisível, sem confusão, e imutável” (v.17). Pouco à frente no mesmo documento ele poeticamente atesta: “Ele é ao mesmo tempo, terreno e celeste, temporal e eterno, com início e sem início, atemporal e sujeito ao tempo, nascido e não criado, passível e impassível, Deus e homem, perfeito nos dois, um em dois, dois em um”.

A opinião de Efraim é claramente ortodoxa e não precisaríamos de outras evidências para que isso seja verificado. Por isso não é de estranhar que o fundamento para essas declarações, além daquelas que encontra no relato da transfiguração, esteja em Jo.1.1. Sobre isso ele fala:

Mas os profetas falaram a verdade e seus testemunhos não mentem. O Espírito Santo falou por meio deles o que deveriam escrever. E João o puro também, que reclinou-se no peito do fogo, reforçando a voz dos profetas, falando da parte de Deus no Evangelho, falando conosco diz: ‘No princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus, todas as coisas foram feitas por meio dele e sem Ele nada do Que foi feito se fez’. ‘E o verbo se fez carne e habitou entre nós’.

Efraim, seguindo a tradição síria também não encontra no texto de Jo.1.1 a idéia de que existe um outro Deus, ao contrário, para ele Jo.1.1 é a demonstração de que o Verbo é Deus e Efraim o reconhece como Deus filho.

C. Clemente de Alexandria

Nascido em Atenas por volta do ano 150, Clemente de Alexandria é reconhecido como escritor grego e teólogo além de fundador da escola de Teologia de Alexandria. É conhecido por unir, ou tentar unir a filosofia grega com as tradições cristãs. É também lembrado como Professor de Orígenes. Clemente teria morrido por volta de 215d.C.
Clemente de Alexandria cita duas vezes o texto de Jo.1.1 e em ambas a leitura é claramente “καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος”. Em sua obra “Exortação aos Pagãos” no primeiro capítulo ele diz:

Você tem as promessas de Deus; você tem Seu Amor: tornou-se participante de Sua Graça. E não suponha que a música da salvação para ser nova como o vaso ou a casa é nova. Pois ‘antes da manhã estrela era’ e ‘no princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus’. O erro parece antigo, mas a verdade uma nova coisa.


A citação aqui é simples, mas como ele entendia a expressão e o Verbo era Deus: “Por que os dois são um – isto é Deus. Por isso ele diz ‘No princípio o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus’” (O Instrutor, Livro I, cap.8). A citação, provavelmente de memória aqui, é uma clara demonstração que para Clemente de Alexandria a leitura falava sobre a identificação do Verbo com o Deus Pai. Essa visão é de tal forma verdadeira que pouco à frente ele conclui que, pelo fato de o Pai ser amor, o Verbo também o é.
Portanto, é evidente que para ele o texto não fala sobre um outro deus à parte do Deus Pai.